segunda-feira, 1 de junho de 2015


DISSE

Viro uma esquina, sob a chuva me pasmo. De que serve a experiência? O manacá-da-serra se exibe florido como o advento do mundo. Adianto-me. Sob a chuva e o guarda-sol, as flores das primícias se desfazem no outono. De que serve a experiência? Serve ao silêncio constrito. A experiência é o que penso saber? Ou o que sei que ainda não sei e que nunca vou saber? A experiência é o medo que atravesso, a lagoa seca, o rio debaixo da árvore morta. De que serve a experiência enquanto os homens se desentendem ou se matam? Não sei, rego as plantas, mato os mosquitos e decifro as tintas sobre papeis. Desligo o abajur na noite que me amordaça. E lembro por lembrar as sarças dos meus descaminhos.


De que servem os jacarandás-mimosos, as azaleias, as paineiras? O frio todo, as chuvas inteiras? A experiência é a sombra que se abre aos eventos que amordaçam os acasos; que dizem dizer - o outono que se abre e se some sob o agosto. E, a cada semana, vão morrendo cada um dos meus. Até que eu.  Tanto faz envelhecer. A morte perde a hora e faz agora, em qualquer penumbra, as cigarras desfeitas nos quintais, as que me encantavam os verões da infância. Os grilos, as noites e meus medos de amanhãs de hoje. Acendo o fósforo, fumo cigarros e como o caju de amores que tomaram o trem de ontem. Esquento a sopa. Penso no mesmo. Diante do Brasil, apago a luz e não adormeço.

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