COM
TODO RESPEITO*
Muitas pessoas com fé de base
religiosa pensam que podem transformar o mundo, mudar a realidade à sua volta.
Não me refiro à determinação louvável de quem deseja mudar seu comportamento,
mas àqueles que esperam alterações positivas e benéficas naquilo que não lhes
concerne, naquilo em que não podem interferir. São os esperançosos "de boa
fé" que imaginam resolver problemas graves e curar doenças de parentes próximos,
amigos, ídolos com rezas e trabalhos místicos de acento esotérico. Uma rematada
tolice, daí a proliferação de picaretas, espertos, patifes...
Nada contra a crença e a fé dos
devotos. Elas os consolam na dor, o que não é, em si, um mal. Ajudam seu psiquismo,
seu equilíbrio emocional em suma, os afastam do desespero. É um benefício
universalmente cultivado. Resta aos céticos a resignação, com que convivem
apaziquados.
Como a maioria dos semáforos
paulistanos para pedestres (ou todos, a meu juízo e pela constatação empírica)
estes, às vezes, coincidem com a interrupção do tráfego veicular, em sendo
acionados. Da mesma forma, a cura, o
arrefecer do sofrimento podem "acontecer" após rezas, benzeduras e promessas
ininterruptas. Se acontecerem, é que os "pedidos" foram atendidos.
Os crédulos, em geral, são rígidos e
inflexíveis em suas convicções. Ingenuidade, ignorância ou autoilusão. A fé
lhes basta; a reflexão e dúvida sistemáticas são, neles, rarefeitas, porque
inalcançáveis ou insuportáveis para suas fragilidades existenciais. São os
sem-Iluminismo, ficam entre um misticismo arcaico e um ocidentalismo meramente
comportamental. Não passam sob escadas embora sejam contemporâneos e digam ser dotados de razão e vontade (leia-se fé). Não percebem a contradição, são assim mesmo.
Outra: 86% da bancada evangélica e do eleitorado* entende que acreditar em deus torna as pessoas melhores; ignora que a grande maioria dos presidiários condenados, cumprindo pena, e, dos homicidas são crentes. Sobre isso se cala. Sem comentários.
Outra: 86% da bancada evangélica e do eleitorado* entende que acreditar em deus torna as pessoas melhores; ignora que a grande maioria dos presidiários condenados, cumprindo pena, e, dos homicidas são crentes. Sobre isso se cala. Sem comentários.
O Alcorão* começa assim: "(...)
2. Esse é o Livro, nele não há dúvida alguma. É orientação para os piedosos
[devotos]. (...) que creem no [no Alcorão] que foi decidido do céu para
ti [para o profeta Muhammad] e se convencem da Derradeira Vida." A Bíblia
não é diferente; é ver o Pentateuco e Evangelhos, por exemplo.
Nisso que chamam Brasil, outros, “pátria educadora”, desde
sempre, reza-se por saúde, segurança, justiça, chuva, promoção econômica,
emprego, sorte, bonança, amor, dinheiro etc. Por isso é o país mais feliz do
mundo, que o digam os camponeses vítimas de seca severa, os urbanos vítimas de
enchentes recorrentes, mães e bebês vítimas da microcefalia no Nordeste,
indígenas do sul mato-grossense, os atolados no deserto de lama tóxica em
Minas, as vítimas de roubos, latrocínios
ou violência policial, mais mortes por assassinato (mais de cinquenta mil por ano) que os mortos norte-americanos na guerra do Vietnam (mais de cinquenta mil em dez anos) e tantos outros na amargura escura. Se sofrem ou morrem é
porque estão em pecado e não sabem; o Brasil é o melhor país do mundo, é o que
também dizem.
No buraco em que estamos, a prática rezadeira se espalha como aedes
aegypti em São Paulo, no verão. Que dizer dos inocentes mortos em Paris
(13. 11. 2015), dos refugiados afogados no Mediterrâneo a toda hora e muitos
mais por esse mundo afora? Por onde andam deus, deuses, entidades, magos e
santos que não os protegem? Não foi Jesus quem, na hora H, disse ter sido
abandonado pelo Pai? Pois é, leiam a Bíblia a que temos acesso já que não
alcançamos o aramaico, o grego ou o hebraico. Distância de textos apócrifos
tidos como “Bíblia”, reescritos por “pastores” patifes, enriquecidos, para pobres fiéis sem instrução. Um crime.
Aguardem as tragédias que sempre vêm por aí,
provocadas pelo homem ou pela Natureza indiferente. Não adianta rezar,
"meu irmão". Seja o que for, será. O melhor consultivo é o acaso que
nos atormenta (ou não). Pergunte a ele; é infalível.
* Por quê? Pra quê? Pra nada.
* Fonte: Datafolha.
* Fonte: Datafolha.
* NASR, Helmi (realizador). Nobre
Alcorão, tradução do sentido para a língua portuguesa. Society of the Revival of Islamic
Heritage – Complexo de Impressão do Rei Fahd.
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