segunda-feira, 9 de novembro de 2015


"VIVENDO" O BRASIL!

E se a mania nacional ("ficando" antiga) pelo uso indiscriminado do gerúndio for uma introjeção linguisticamente manifesta da continuidade acumulada, ao longo do tempo, de nossas manjadas mazelas (Ufa!): degeneração moral (corrupção endêmica), patrimonialismo, violência contra a mulher, latrocínios, roubalheira e furtos à luz do dia, homofobia e assemelhadas, discriminação racial, exploração do trabalho, abandono da infância, adolescentes cruéis, crime organizadíssimo, burocracia patológica e paralisante, assistencialismo populista e eleitoreiro, representação política fraudulenta, despreparo generalizado dos órgãos públicos, líderes cavilosos, as artes rebaixadas ao grotesco das manadas, educação miserabilizada em amplo sentido, saúde pública no bueiro, insegurança cotidiana e violência policial somada a seus membros corruptos... É preciso mencionar mais?!


A convivência com o lixo contínuo da vida brasileira terá, então, contaminado a linguagem; o gerúndio epidêmico é apenas a face mais visível desse envenenamento, dessa estafa sem fim. Sob os falares cotidianos, na praga dos clichês ("qualidade de vida", "autoestima", sustentabilidade" etc.), há muito mais. Para o bom ouvinte, amplificadores são dispensáveis. Ações e sua correspondente expressão se arrastam no tempo por diversas formas: "Com certeza", "a nível de", "Enfim", "Estou ótimo(a)"... Por isso, o patriota, o militante (soldado da doutrina), burros como só podem ser, enchem o peito, erguem o braço de punho fechado e, em vez do velho "Viva o Brasil!", esbravejam: "Vivendo o Brasil!". O vírus que nos assombra tem um nome: "continuum inexorabilis".

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