"VIVENDO"
O BRASIL!
E se a mania nacional
("ficando" antiga) pelo uso indiscriminado do gerúndio for uma
introjeção linguisticamente manifesta da continuidade acumulada, ao longo do
tempo, de nossas manjadas mazelas (Ufa!): degeneração moral (corrupção
endêmica), patrimonialismo, violência contra a mulher, latrocínios, roubalheira
e furtos à luz do dia, homofobia e assemelhadas, discriminação racial,
exploração do trabalho, abandono da infância, adolescentes cruéis, crime
organizadíssimo, burocracia patológica e paralisante, assistencialismo
populista e eleitoreiro, representação política fraudulenta, despreparo generalizado
dos órgãos públicos, líderes cavilosos, as artes rebaixadas ao grotesco das
manadas, educação miserabilizada em amplo sentido, saúde pública no bueiro,
insegurança cotidiana e violência policial somada a seus membros corruptos... É
preciso mencionar mais?!
A convivência com o lixo contínuo da
vida brasileira terá, então, contaminado a linguagem; o gerúndio epidêmico é
apenas a face mais visível desse envenenamento, dessa estafa sem fim. Sob os
falares cotidianos, na praga dos clichês ("qualidade de vida",
"autoestima", sustentabilidade" etc.), há muito mais. Para o bom
ouvinte, amplificadores são dispensáveis. Ações e sua correspondente expressão
se arrastam no tempo por diversas formas: "Com certeza", "a
nível de", "Enfim", "Estou ótimo(a)"... Por isso, o
patriota, o militante (soldado da doutrina), burros como só podem ser, enchem o peito, erguem o braço
de punho fechado e, em vez do velho "Viva o Brasil!", esbravejam:
"Vivendo o Brasil!". O vírus que nos assombra tem um nome: "continuum
inexorabilis".
Nenhum comentário:
Postar um comentário