A ANGÚSTIA DE NICOLAU
Nicolau era um homem cético e
atormentado por uma dúvida: as pessoas sem religião alguma, sem qualquer deus,
podem ser inteiramente boas, incapazes de causar quaisquer danos a alguém, serem
respeitadoras de todas as formas de vida e portadoras de outras indispensáveis
virtudes? O que diziam por aí era coisa bem diferente.
Naquele dia, andava refletindo
enquanto caminhava por uma estrada. Foi então que se deparou com um estranho
estabelecimento. Na placa suspensa, escrito estava simplesmente
"Deus"; no interior, um balcão, o resto vazio. Nicolau, assim mesmo,
lançou, no ar, a pergunta, a dúvida aflita. Como se tratava de
"Deus", indagou também sobre o merecimento do céu. Uma voz então lhe
respondeu: "Virtude não é moeda de troca; meu céu não está em negociação,
nunca está. Siga pela estrada em que caminhava; ela é seu céu. Não deixe a
dúvida consumi-lo". E o estabelecimento, a voz e tudo o mais que havia
desapareceu.
Nicolau, ainda perturbado, conduziu seus passos por algum tempo, depois parou e voltou-se. Atrás dele, nada mais existia,
como se somente o à frente
tivesse materialidade. Ele, então, entendeu ou pensou ter entendido o que
não é para ser entendido.
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