O QUINTAL DA INFÂNCIA
De cima para baixo ou da rua para os fundos, vejo uma mirrada pereira e uma macieira. Mais descendo, à esquerda, um coqueiro-mirim, carregado. À
direita, um rego, um sapo e uma laranjeira que frutifica quando quer. No
centro, uma tangerineira. Ao lado, uma mangueira, onde está minha casa arbórea
e onde me escondo dos beliscões maternos. Mais: outra vez, no centro, mais
abaixo, um pé de limão cravo. À direita, duas goiabeiras adequadas para os
doces que faço com minha mãe. Ao lado, um galinheiro, abacaxis, outras
laranjeiras, um abacateiro, um pé de feijão andu, parreira (muitas abelhas e vespas), taiobas, um
mandiocal, amoreira, canas caianas, mais goiabeira e mais abacateiro; um
limoeiro, mais três laranjeiras, de espécies distintas, um pinheiro que chora
nas noites de muito vento e uma limeira. Por fim, ao lado do pinheiro, uma edícula (chamávamos puxado) onde ficavam a lavanderia, um poço e um fogão a lenha; cozinhávamos aí, antes do gás entregue nas casas.
Eu? Bem quietinho, pulo a janela de
meu quarto na madrugada, deito no chão do quintal e fico a apreciar as
estrelas, a Lua às vezes, vaga-lumes, grilos, formigas, aranhas e bichos vários.
Sou feliz em pensar no escuro. Pelo menos era. Meu quintal tornou-se um
patrimônio pessoal inalienável, um tesouro de felicidade para os anos que me
restam.
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