terça-feira, 30 de agosto de 2016


O QUINTAL DA INFÂNCIA 


De cima para baixo ou da rua para os fundos, vejo uma mirrada pereira e uma macieira. Mais descendo, à esquerda, um coqueiro-mirim, carregado. À direita, um rego, um sapo e uma laranjeira que frutifica quando quer. No centro, uma tangerineira. Ao lado, uma mangueira, onde está minha casa arbórea e onde me escondo dos beliscões maternos. Mais: outra vez, no centro, mais abaixo, um pé de limão cravo. À direita, duas goiabeiras adequadas para os doces que faço com minha mãe. Ao lado, um galinheiro, abacaxis, outras laranjeiras, um abacateiro, um pé de feijão andu, parreira (muitas abelhas e vespas), taiobas, um mandiocal, amoreira, canas caianas, mais goiabeira e mais abacateiro; um limoeiro, mais três laranjeiras, de espécies distintas, um pinheiro que chora nas noites de muito vento e uma limeira. Por fim, ao lado do pinheiro, uma edícula (chamávamos puxado) onde ficavam a lavanderia, um poço e um fogão a lenha; cozinhávamos aí, antes do gás entregue nas casas.


Eu? Bem quietinho, pulo a janela de meu quarto na madrugada, deito no chão do quintal e fico a apreciar as estrelas, a Lua às vezes, vaga-lumes, grilos, formigas, aranhas e bichos vários. Sou feliz em pensar no escuro. Pelo menos era. Meu quintal tornou-se um patrimônio pessoal inalienável, um tesouro de felicidade para os anos que me restam.

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