COISAS DE NICOLAU
Nicolau, nesse fim de tarde, não estava bem. Uma irritação difusa o incomodava. Interrompeu sua caminhada e decidiu por sentar-se à beira daquele riacho. Quem sabe... Com uma vareta, ficou a cutucar a corrente límpida, quando, súbito, algo lhe veio à cabeça, vinha de uma última conversa com peregrinos, era isso mesmo que o incomodava, que resultou numa daquelas polêmicas ociosas. Lembrou-se então de seu pronunciamento provocador: "o deplorável de quaisquer esperanças é não impedir que nos livremos das inevitáveis decepções. O melhor é fugir delas, negá-las a todo custo. A esperança é um veneno com sabor de amoras e prazo de validade vencido. O decorrer do tempo e as surpresas do acaso é que comprometem seus frágeis alicerces. Coisa de ingênuos (falsos desejos propiciatórios) ou ignorantes (o contexto circundante lhes escapa). Melhor é viver sem tê-la e encarar cada momento, cada dia, de frente".
Depois viu que tinha alguma fome, comeu uma banana sem pressa, arrumou suas poucas coisas no velho saco e,
determinado, mais calmo, dirigiu-se ao poente que avermelhava o firmamento de
sempre.
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