segunda-feira, 19 de setembro de 2016


NADA SEM NA E DA

Eu não estava tão certo
De que estavam ali: um navio naufragado
E Cecília M. na superfície.
Sei que nem mesmo estava só,
Um nada que soluçava.
As areias eram tantas, eu constatava.
Os grãos em silêncio de luz e sem as pernas de voz e vontade.
Depois, muito depois,
Foram as águas, essas mortais sem inclinação para poços.
O tempo? Deixem o tempo.
Este não vale o tempo.
Restou-me morder papéis de raiva.
Mastigar unhas para nada fazer.
E as dores eram só para começar.
E imaginei que via um figo e um bago no cacho de uvas.
Havia também uma linda mulher que cantava,
Uma doce melodia como só elas sabem realizar.
Eu possuía um segredo: uma estrela no bolso
Que me revelou seu parto.
O quê? Não sei, talvez um nada.
Então acordei, sei que não sonhei nas areias,
Mas vi quem me viu,
Um espelho refletia a morte parida, as águas esquecidas e sujas de sangue.
Tornei-me o que ainda sou:
Uma pedra sem brilho que ainda pesa sobre papéis
Ou repousa no fundo de um rio.

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