sexta-feira, 2 de setembro de 2016

ISTO E AQUILO LÁ

Penso numa fotografia de alguém que não conheço. Nela, não há movimento nem tempo, esse par inseparável. Se o tempo dá o contorno da figura, o movimento dá sua fisionomia. Então, a fotografia daquele desconhecido me informará muito pouco sobre ele, como os retratos de documentos. Eu, como qualquer observador, "ficciono" aquele par mencionado: o movimento e o tempo são construções minhas. A necessidade de dar vida a quem se apresenta como morto no papel. Assim, a figura sairá andando por aí, numa narrativa inconclusa, a menos que ela surja da imagem numa página policial de um periódico e, empiricamente, esteja de fato morta. Será? Ela não teve um passado, a narrativa do que foi?

A imaginação faz de um observador comum, por instantes, um romancista amador. O ser humano é, naturalmente, um criador de criaturas, a começar de si, depois vêm os outros. Por isso, a coisa não pode dar certo, sempre, e nossa vida não passa de uma aproximação, mais ou menos rente, imperfeita. As identidades não se confundem. É seu encanto e seu fracasso.



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