terça-feira, 29 de novembro de 2016


DOMÍNIO

As redes sociais já correm o sério risco de se tornarem, se não são desde o surgimento, a forma digital encontrada pelos idiotas, para disfarçar seu vazio e sua burrice na infinita extensão da web (coitada da avenida Paulista). Realizam seu exibicionismo, tido como festejo democrático, a partir delas. Têm-se na conta de um bem eletrônico, moderno, universal, movido a bateria e a obsolescência programada. Escravos da Apple e da Microsoft que, por sua vez, fazem uso da mão de obra servil no Extremo Oriente.

Reproduzem-se com figurino covarde, engordando-se no anonimato, a espalhar maus-tratos segundo a cor de sua patologia. O desastre está servido, basta sentar à mesa. Porém, as redes sociais são mais que isso; às vezes, algo bem melhor. Vai depender de quem delas faz uso; como facas, paus e pedras que têm e terão sempre serventias deletérias e letais. Os cretinos e o crime não saem de cena. Não dá para discordar. Acontece que as redes sociais pagam alto preço à vacuidade, à superficialidade e, ironia suprema, à desinformação. É a cultura do panfleto e das palavras de ordem. Os idiotas não leem, não sabem, deitam a vista sobre telas prontas; não escrevem, não sabem, motivo pelo qual as  teclas de suas maquininhas são diminutas, quase invisíveis.

Muitos de seus entusiastas e manifestantes são de uma ignorância alarmante; não sabem o que é uma grande-angular, que lhes falta horizonte além do próprio umbigo e dos festins ideológicos de sua tribo, o pertencimento atávico. O espalhafato inconsistente faz as vezes do lastro sólido de quem, há muito, se debruça sobre o velho e insubstituível livro ("Lembra? Aquele".) em casa ou nas abandonadas bibliotecas públicas. As raras, particulares passam bem, obrigado. O mundo lhes vem sempre pronto - homens Google. Entre tantas coisas incompreensíveis, o uso insistente do espaço público (coitada da avenida Paulista) me escapa. Sua ágora é a tela do smartphone, dos aparelhos de vídeo e rádio, agora todos com a peste da interatividade e da conectividade compulsivas - os burros são tagarelas e gregários por natureza, precisam de barulho, daí o uso preferencial de rojões (coitados dos passarinhos, cães, gatos...); a poesia das imagens no céu, dos fogos de artifício, lhes escapa. Não falam, gritam; seus ruídos já os ensurdeceram.


 Bem, eles levam muitas vantagens: não se acaba com eles; a sustentabilidade é seu modo de vida; são onipresentes, constantes e preguiçosos. Copistas, não criam; encostam como ímã de geladeira. A tecnologia lhes vem a calhar e a multidão é seu perfumado lençol de seda.

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