segunda-feira, 21 de novembro de 2016


PERDA DE TEMPO

Escreve-se (tenta-se) o inexprimível e tem-se o ilegível. Resulta um texto de difícil compreensão, senão impossível. O leitor tolo e "colonizado" o toma como profundo e se vê na condição de “burro” ou ignorante, mormente se o autor estiver na moda e repousado sobre um pedestal europeu (Deleuze ou Lacan, por exemplo). O "complexo de vira-lata" rouba a cena e o moço, com o livro na mão e na cabeça, vai dormir deprimido. Existem leituras que não se põem logo de portas abertas, é fato, mas basta batermos palmas e elas se abrem com mesuras e nos conquistam para sempre. Grande Sertão: Veredas (G. Rosa) é um caso à mão. Mas a coisa é simples, textos e respectivos autores assim devem ser sumariamente abandonados; há, para serem lidos, inumeráveis obras inteligentes, bem escritas, complexas, mas claras. O bom é claro e abordável; a leitura, deveras prazerosa.



M. Foucault, numa de suas entrevistas, declarou, certa vez, que, em trabalhos para a academia, fazia-os deliberadamente obscuros nas primeiras trinta linhas, para com elas, adquirir respeito e impor-se. Se o ato de ler em sua própria língua se torna decifração, alguma coisa está errada: ou o leitor se vê, involuntariamente, na situação de um arqueólogo diante de língua morta ou atolado num lamaçal de pedantismo, vítima de mais um autor-pavão. Pena que as prateleiras da academia e da literatura estejam cheias de textos assim. Uma praga "muderninha".

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