Quando se pôs de pé, viu-se retido
por um objeto sobre a mesa. Era um grampo de cabelos que lhe foram importantes
por bons motivos. Circunstâncias fortuitas o levaram até ali, aquele ambiente
desarrumado havia dias.
Se a casa foi abandonada, não
havia razão para falta de asseio pessoal. Colocou-se sob o chuveiro,
barbeou-se, vestiu-se em trajes limpos e apoderou-se do grampo. Saiu para a
praça, naquela tarde ensolarada.
Sentiu-se, por alguns instantes,
perdido. Havia poucas pessoas espalhadas em alguns bancos, sob as sombras dos
flamboaiãs, floridos nessa época do ano. Caminhou até o extremo da quadra, até
avistar o rio, outrora manchado de lembranças amargas, mas agora já limpo. Sua
vida mudaria. Transfiguração.
Foi, em passos lentos, à ponte, debruçou-se
sobre a murada e ficou contemplando as águas plácidas e verdes. Era um rio
agradavelmente silencioso, margeado por vegetação densa, de tons múltiplos.
Tomou a decisão de atirar o grampo nas águas; por que manter aquele incômodo no
bolso? E o fez.
Deveria ter esperado a noite
pesada e as ruas vazias para livrar-se do corpo que carregava outros grampos,
mas não o fez. Deixou-o no porão da casa desarrumada. Saiu dali, tomou um taxi
e dirigiu-se à rodoviária. Comprou passagem para o Rio e esperou duas horas
para embarcar. Dessa vez, foi-se para nunca mais voltar, nem por imposição de
inquérito policial. Algo muito improvável. Seria se não fosse. Foram demasiado
nefastos os dias.
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