quarta-feira, 2 de agosto de 2017


TRANCO

O vidro quebrado na janela,
A verdade de meus desmembramentos:
Não tenho pulsos,
Não tenho pernas.
Ando aos soltos,
Caminho aos empurrões
Carregando peles.
Envelheci.
Não deixo legados,
Não sei quem herdará
A biblioteca pessoal,
Poemas ruins,
Minhas últimas mulheres, meu filho.
Não há ninguém, só mins.
Há só barba a fazer,
Cabelos a pentear,
Paisagens feias,
Contas a pagar
E outonos, invernos.
Não suporto verões.
A primavera não existe,
Mas há uma aranhinha na cozinha
Com dois nhs. Fico povoado.
Esta verdadeiramente amo.
Sou meu sabonete que caiu.
Adormeço com um tenor de Coltrane,
Adormeço comigo,
Sim com sins.

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