quarta-feira, 22 de agosto de 2007

A REPÚBLICA

A vida republicana supõe, desde sempre, relações contratuais entre pares, que dispõe de espaço comum. Demarcam-se movimentos, barulhos, vontades, limites concretos e outros, abstratos. Até que a morte nos separe, ou, em inconveniência, sob justiça convencionada, o castigo, a pena. A vida adulta, que se aprende na escola - a iniciação à existência pública - nasce deste divórcio inaugural, entre tantos outros inaugurais. Bem, poderia dizer, a vida é divórcio e dor...

O que se vê no Brasil é uma "perda de delicadeza" (C. B. de H.) e o rasgar da vida republicana. O que eu quero eu tomo do outro. Sem lei. A polícia lhe pede, por fora, a proteção do patrimônio. E cale a boca. Perdemos a nossa integridade corpórea quando, contra a voz, alegamos direitos constitucionais. A lei, ora a lei...

O direito à vida, fundamental, é moeda de troca. O Estado, monopolizador, por contrato, da violência, a que reza os contratos da res publica, o violenta. Você é burro, antes de escovar os dentes. Você é brasileiro.
Nas metrópoles, isto se dá às claras. No interior, quase sob lençóis, sob véus. A gente sempre sabe quem é, quem foi, quando, onde, por que e como. Perplexos, gastamos a vida no para quê.

Agora, não espere, saia de casa, tranque-a muito bem. Seu único objetivo é uma dúzia de bananas, nesta manhã de domingo. Não se lembre daquilo que você não deve se lembrar (seus males), vá em frente, o dia é bonito, a carne é franca (Não se esqueça: a questão social é uma questão de polícia). Vá. A picanha é macia.
Mas você não pode comprá-la. Nem imaginá-la. Seu mal é imaginar com a liberdade privada que lhe resta. Vá. Não seja nem brasileiro, nem escove os dentes. Nem antes, nem depois. O outro, o Estado o aguardam.
Fique na sua. A república saiu de moda. Agora é faca.

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