sexta-feira, 15 de julho de 2011





ESSA VELHA SENHORA

Literatura é sempre uma outra coisa. Se assim não fosse, há muito, a escrita como arte teria desaparecido na noite. Sua busca traz, na garupa, as palavras que, de novo arranjadas, nos encantam. O encontro.

Muito diferentes são os livros em que o texto não passa de mero suporte para o enredo. O segredo está na urdidura, mas desaparece na sucessão e superfície dos eventos. O que importa acontece na costura das palavras. Já me incomoda tanto essa cansada metáfora do tecido. Quero uma outra, outra coisa. Belo seria um jardim de pedras.

Como no desenho, a alma vem no traço; está dissimulada na figura. A unidade que seduz, a primeira impressão, é uma porta de entrada, um vestíbulo. Há que se perder nos aposentos - a pluralidade de sentidos. O elixir da sagração.

Aqueles livros que carregamos pela vida são labirintos em que nos perdemos por ato voluntário. Protegem-nos da desarrumação que nos é exterior e conforta-nos naquela que nos é interior. Inescapáveis ambas. Daí a necessidade de viver com a arte. São tristes as pessoas que se acertam vendo apenas um parafuso, um prego. E mesmo essas não se apartam da música ligeira e da dança de salão. Das canções. A uma pessoa que se anuncia por melodia assobiada devemos, por regalo, um primeiro voto de confiança.

Salvador, julho de 2011

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