UM POUCO FORA DE ÉPOCA: RARGHP
Há muito, muito tempo, na música erudita barroca, foi criado o estilo recitativo. Os instrumentos eram mero suporte. Muito delicado então. Portanto, não há criatividade nenhuma nessa "coisa" do "povo do boné" - a geração "porra, caralho!" - que, em música popular de hoje, se chama RAP (de origem norte-americana, vazada aqui, na terra das araras, bundas, praias, coqueiros e bananeiras, como praga). Atual apenas em parte, na brutalidade. Falar em criação é sempre problemático.
Sei os motivos e a sociologia da “coisa”. Puro clichê. Por que não ouvir Avellino Monteverde? Por que só fui me lembrar disso hoje, nesta exata manhã de agourento domingo, de sonolência perdida?
Já sei: é o maldito vizinho ouvindo seu rap nas alturas, desconsiderando qualquer remota possibilidade de que existam outros mamíferos na área. Entendeu? É ele e mais ninguém. "Existirem outros? Pra quê?! Por que não dormem até morrer? Deveria chover gasolina sobre essa gente que não me deixa ouvir o rap. Só pra sentirem o cheiro".
Apesar de estar envelhecendo bem (contente por ter vivido o que vivi, sem desejar nada de volta, sem ressentimentos – de algumas vergonhas ninguém escapa), estou resignado a morrer de tédio em áridas paragens.
A este domingo seguem outros, outras manhãs. O mesmo vizinho. Ele não permanecerá. Vou passeando sem pressa, ainda que pleno de ira, e também esta não permanecerá. Assim desejo e espero. Quem sabe o que nos reservam os inescapáveis domingos, os malditos novos vizinhos?
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
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