domingo, 22 de julho de 2012

MEXIDO


"A incapacidade de a linguagem encobrir a experiência real me fascina. Gosto da exposição do fracasso da linguagem, pois sempre haverá uma zona de indeterminação, de incompletude. A morte estará sempre à espreita, porque é a linguagem que a carrega dentro de si". Carlos de Brito e Mello


Duas palavras me causam um leve incômodo aí: "recobrir" e "morte". Ainda que concorde com o exposto, as trocaria por "revelar" e "silêncio" respectivamente. Não estaria dizendo coisa diferente de C.B.M: "revelar" remete a "véu" e, portanto, "cobrir", "encobrir". O "silêncio" precede e reveste a "morte". Os moribundos, pela ordem natural das coisas, em seus instantes finais, também se calam. A linguagem recolhe-se à sua insignificância, à sua impermanência e impertinência. Para morrer com o morto. Se a morte, na maioria das vezes, não manda aviso, a linguagem se engrandece à medida que se encolhe na fronteira de seus próprios limites; na insistência muda de quem não ousa falar. Seu último e escuro desejo. A linguagem passeia saltando silêncios.

Salvador, 16 de julho de 2012

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