segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

GREGARISMO SEBOSO E PEGAJOSO




A chamada "sociedade de massas", nascida com a industrialização em larga escala (máquinas, equipamentos, alimentos, vestimentas, meios de comunicação, bens culturais etc.) trouxe de forma acachapante, para os indivíduos urbanizados, a necessidade doentia de pertencimento: movimentos com a vocação de produzir manadas específicas (mas sempre manadas) que se fazem ondas avassaladoras em busca de adesões: neo-pentecostais, "carismáticos", esotéricos, "naturebas", "orgânicos", adeptos de "qualidade de vida", leitores de auto-ajuda, eco-turistas, ambientalistas doutrinários, ciclistas militantes, pastores do anti-tabagismo, ativistas de sofá, missionários de qualquer fuça, cachorristas, maratonistas, "chefs" domingueiros, churrasquistas, glts de passeata, torcidas organizadas, baladeiros, blogueiros, centrais telefônicas ambulantes (usuários de celulares e assemelhados), indignados, motoqueiros tribais, Zés-gasolina, e muitos mais. Ufa!



Como corolário, o culto às celebridades de variada estirpe, que são os destacados em cada grupo de bovinos humanóides - espécie de touros ou vacas de leilão. Adeptos do espalhafato e inimigos da elegante discrição. A internet e as redes sociais são o "canal", a sopa no mel, fizeram o estrago. Lançam confetes e serpentinas de slogans, clichês (a precária verbalização adquirida a custa de pouco suor e pouca leitura). E tudo se espalha como uma pandemia. O mundo aí fora se torna opressivo, sufocante, ruidoso e estridente pela quantificação desvairada. Nada é qualificado, mas tudo é medido - %. As estatísticas tornam-se a explicação única em todas as áreas do saber.



A paisagem humana se torna indistinta. A polenta gigante da reprodutibilidade e da conectividade compulsivas é totalitária. A barbárie, através da força bruta, se instala insidiosamente. A palavra foi perdida nos bueiros das ruas congestionadas. Difícil escapar, entretanto, é possível num simples e esquecido "cada um a seu modo". Como uma idéia banal logo é plasmada em doutrina, gera pregadores e missionários, uma manada e um negócio de bilhões. Distanciar-se dessa praga global já atira algumas pessoas à condição de "suspeitos", "perigosos" e, claro, "doentes".



Não é bem o caso de ser "diferente" por capricho - há também a manada dos "diferentes" a qualquer custo - mas de não aderir, ficar à margem para observar e refletir, desligar as “maquininhas”. E arcar com as dificuldades de tal escolha; apesar dela, pensar dá prazer (para alguns poucos). Algo antigo: "pensar com a própria cabeça", "pode ir que eu não vou", duvidar e desconfiar sempre. Acarreta alguma parcela de sofrimento? Sim. Mas que outro jeito há?! É da ordem natural das coisas viventes. Toda adesão oferecida é perigosa.

Nenhum comentário: