1. O momento mágico da
conversação está no silêncio entre as falas.
2. O que verdadeiramente vale
a pena é visitarmos cotidianamente o mistério do mundo.
3. O presente será o passado,
seu futuro; foi também o futuro, seu passado. Daí, depreende-se que o presente
não é. O tempo está de folga.
4. O erro é o alicerce do
acerto. Sem ele, a casa cai. Não se deve temê-lo, mas, apreciá-lo com
condescendência.
5. A morte tem dons
incogitáveis: faz, num estalar de dedos, nascer, em cada um dos herdeiros
presumidos e descendentes, o avarento insuspeitado.
6. Fique esperto: importantes
estudos contemporâneos concluíram que a demência senil precoce decorre do
número de vezes que o indivíduo, perfilado, cantou o Hino Nacional. Maior o
número, breve é o tempo até a caduquice.
7. Na horta da vida, regar o
medo da morte é a receita certa para um velório sem fim prognosticável.
8. A permanência em filas
(quaisquer) e a espera alongada (por qualquer coisa) é causa direta de
depressão crônica. Volte pra casa e esqueça.
9. A estupidez do automóvel é
patente: ele não carrega seu corpo, é você que o carrega nas costas e no bolso.
10. Essa discussão hodierna
sobre gênero é de ontem, do tempo de Foucault. Moderninho é ser hermafrodita.
11. A vantagem do ursinho de pelúcia
sobre o cachorrinho peludo (nos braços, na bolsa ou na coleira) é que, por mais
tempo, você permanece infantil. Animal tem prazo de validade e, um dia, você
vai chorar feito bobo, mas com carcaça de adulto.
12. A proximidade entre o smartphone
e o apedeuta eletrificado é uma espécie de autismo com hora marcada.
13. Desconfio que o selfie
é o subterfúgio do idiota: a tentativa de escapar da sua condição de ser um
nada ao lado de alguma coisa.
14. Passeio no shopping
é detenção voluntária com carteira vazia no bolso.
15. Antigamente havia o
"arroz de festa", hoje existe o "arroz de manifestação".
16. Viajantes são figuras do
passado. Hoje, o que se vê são mamíferos presos à coleira do guia em pacotes
turísticos na porta do Louvre.
17. No restaurante da moda,
experimente pedir nada em vez de comida (dá no mesmo). O nada lhe será servido,
é a força do hábito. Se pedir alimentação, não se surpreenda: o nada também lhe
será servido, é a força do capital sobre sua burrice.
18. Inteligência é do
imponderável. Esperteza é parecer inteligente sem sê-lo. Basta pronunciar, de
forma solene, "sustentabilidade" e "empoderar" com se
fossem de sua primeira infância. E não se esqueça de candidatar-se a um cargo
público. Tem muito gente que se elegeu.
19. O Brasil tem muitas coisas
curiosas: se você nasce aqui, diz-se que é brasileiro quando deveriam dizer
qualquer outra coisa de igual insignificância, que ser brasileiro, em alguns
lugares, compromete.
20. O eurodescendente e o
afrodescendente tomaram muitas cervejas. Na hora de pagar, fugiram em
disparada. É o que chamam de "comunhão das raças". Coisas do Brasil.
21. Se você "encheu a
cara", não se envergonhe. No Brasil, o poder público está de pileque desde
o longínquo ano de 1500. Tome outra pra rebater. Sempre é você quem paga a
conta. Sentir vergonha...
A. R. Falcão - abril de 2015
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