segunda-feira, 27 de abril de 2015


21

1. O momento mágico da conversação está no silêncio entre as falas.

2. O que verdadeiramente vale a pena é visitarmos cotidianamente o mistério do mundo.

3. O presente será o passado, seu futuro; foi também o futuro, seu passado. Daí, depreende-se que o presente não é. O tempo está de folga.

4. O erro é o alicerce do acerto. Sem ele, a casa cai. Não se deve temê-lo, mas, apreciá-lo com condescendência.

5. A morte tem dons incogitáveis: faz, num estalar de dedos, nascer, em cada um dos herdeiros presumidos e descendentes, o avarento insuspeitado.

6. Fique esperto: importantes estudos contemporâneos concluíram que a demência senil precoce decorre do número de vezes que o indivíduo, perfilado, cantou o Hino Nacional. Maior o número, breve é o tempo até a caduquice.

7. Na horta da vida, regar o medo da morte é a receita certa para um velório sem fim prognosticável.

8. A permanência em filas (quaisquer) e a espera alongada (por qualquer coisa) é causa direta de depressão crônica. Volte pra casa e esqueça.

9. A estupidez do automóvel é patente: ele não carrega seu corpo, é você que o carrega nas costas e no bolso.

10. Essa discussão hodierna sobre gênero é de ontem, do tempo de Foucault. Moderninho é ser hermafrodita.

11. A vantagem do ursinho de pelúcia sobre o cachorrinho peludo (nos braços, na bolsa ou na coleira) é que, por mais tempo, você permanece infantil. Animal tem prazo de validade e, um dia, você vai chorar feito bobo, mas com carcaça de adulto.

12. A proximidade entre o smartphone e o apedeuta eletrificado é uma espécie de autismo com hora marcada.

13. Desconfio que o selfie é o subterfúgio do idiota: a tentativa de escapar da sua condição de ser um nada ao lado de alguma coisa.

14. Passeio no shopping é detenção voluntária com carteira vazia no bolso.

15. Antigamente havia o "arroz de festa", hoje existe o "arroz de manifestação".

16. Viajantes são figuras do passado. Hoje, o que se vê são mamíferos presos à coleira do guia em pacotes turísticos na porta do Louvre.

17. No restaurante da moda, experimente pedir nada em vez de comida (dá no mesmo). O nada lhe será servido, é a força do hábito. Se pedir alimentação, não se surpreenda: o nada também lhe será servido, é a força do capital sobre sua burrice.

18. Inteligência é do imponderável. Esperteza é parecer inteligente sem sê-lo. Basta pronunciar, de forma solene, "sustentabilidade" e "empoderar" com se fossem de sua primeira infância. E não se esqueça de candidatar-se a um cargo público. Tem muito gente que se elegeu.

19. O Brasil tem muitas coisas curiosas: se você nasce aqui, diz-se que é brasileiro quando deveriam dizer qualquer outra coisa de igual insignificância, que ser brasileiro, em alguns lugares, compromete.

20. O eurodescendente e o afrodescendente tomaram muitas cervejas. Na hora de pagar, fugiram em disparada. É o que chamam de "comunhão das raças". Coisas do Brasil.

21. Se você "encheu a cara", não se envergonhe. No Brasil, o poder público está de pileque desde o longínquo ano de 1500. Tome outra pra rebater. Sempre é você quem paga a conta. Sentir vergonha...


A. R. Falcão - abril de 2015

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