segunda-feira, 25 de maio de 2015


ENCALACRADOS

"O que vemos não é a natureza, mas a natureza exposta
ao nosso método de questionamento".
                                                                              Werner Heisenberg

O que é a luz a não ser a escuridão que nos povoa na ignorância e o claro que nos desmantela na contraluz? O mistério que nos encaminha e nos põe em estradas vazias, entre a onda e a partícula? O que faz e desfaz, o que é e não é, o não-inexistente?

Você não vê a luz, vê as coisas iluminadas; ou não vê, pensa e se  lembra dela. Você não vê a morte, vê os mortos; ou não vê, pensa muito e se lembra dela. Cai embaraçado no velho novelo do verbo, na vã filosofia.

É no castelo de palavras, umas sobre as outras, num equilíbrio instável, que se concentram a reminiscência e o esquecimento, numa troca de soma zero, tal como aquela verificada entre um vago "mim" e esse vulto refletido no espelho. Quem há de morrer primeiro? Quem será mumificado pela memória aleivosa? Quem dos descendentes apagará a luz?

As palavras iniciais, à medida que se apagam, serão outras muito mais adiante, muito embora as mesmas. Quem vê jaz cego; quem lê jaz parvo. Somos os que não sabemos quem. E, então, é que não é, e assim é que não sou. E então?!

Deixa pra lá e vá ver se a água já ferveu.


A. R. Falcão - maio de 2015

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